BREVE HISTÓRICO DO MOVIMENTO EVANGÉLICO EM PORTUGAL
Muitos acreditam que estamos vivendo um tempo de crescimento evangélico em Portugal. Face a forte imigração dos últimos anos. Muitas igrejas se multiplicaram no território português. E dada a  subida do número de congregados  e frequência de membros nos cultos. Estatísticas históricas nos mostram que os evangélicos do séculos passado deixaram marcas profundas. 
Até ao século XIX, a aceitação da fé "evangélica" ocorreu quase exclusivamente fora do país continental. Os que adoptaram a fé cristã evangélica foram algum estudiosos e diplomatas portugueses que empreendiam diversas viagens aos países afectados pela Reforma do século XVI.
Não houve, contudo, qualquer influência particular do período da Reforma e dos seus princípios em Portugal. Não há notícia da existência de nomes radicados em Portugal, semelhantes aos reformados da Europa Central e do Norte e que assumiram uma posição de inequívoca defesa da liberdade religiosa durante um longo período de tempo, com as consequências daí decorrentes, geralmente o risco da própria vida.
Em 1641 foi estabelecida em Lisboa, uma igreja reformada holandesa. No ano seguinte, o rei D. João IV assinou um tratado com Carlos I de Inglaterra, através do qual os súbditos britânicos residentes em Portugal tinham garantida a sua liberdade de consciência e religião.
João Ferreira de Almeida (1628-1691), um português que recebeu a sua educação teológica na Holanda, empreendeu a primeira tradução do Novo Testamento para a língua portuguesa, a partir do original grego. Em 1670 a tradução estava concluída e onze anos depois foi publicada. João Ferreira de Almeida faleceu antes de completar a tradução de todo o Antigo Testamento do original hebraico. No entanto traduziu-o, de Génesis a Ezequiel, enquanto estava em Java (Indonésia). Em 1819 foi publicada a primeira edição da Bíblia em Português, de Génesis a Apocalipse, traduzida por João Ferreira de Almeida, sendo as versões revistas e actualizadas, posteriormente, as quais continuam a ser utilizadas pelos cristãos evangélicos de língua portuguesa.
É de referir que durante muitos anos, a própria Bíblia Sagrada esteve no elenco dos livros proibidos. Um povo analfabeto, a burguesia pouco apegada às letras, as missas em latim e a proibição da leitura da Bíblia Sagrada, constituiram assim, obstáculos intransponíveis para o conhecimento do evangelho pela população lusitana. Como reconheceu Almeida Garrett, nove anos após abolição da Inquisição, no seu ensaio "Portugal na Balança da Europa" (1830) "Portugal sofreu uma grande perda em não ter um maior contacto com as influências liberalizantes da Reforma". E tal deveu-se, em grande parte, ao sistema da Inquisição.
"O Peregrino", de João Bunyan, foi o primeiro livro "evangélico" publicado em Portugal. A primeira edição data de 1778 e a mesma foi possível em virtude da expulsão dos Jesuítas de Portugal e das reformas liberais de Marquês do Pombal.
Em 1774 foi inaugurado o primeiro cemitério protestante em Lisboa. Contudo, o acesso a esse cemitério estava limitado aos súbditos britânicos residentes em Portugal, ao abrigo do tratado outorgado em 1642.
OS PRIMEIROS TRABALHOS EVANGELÍSTICOS  | 
A fundação da agência da Sociedade Bíblica Britânica estrangeira, em 1809 foi o primeiro marco que conduziu a que muitos agentes da referida sociedade tenham percorrido Portugal, deixando quantidades apreciáveis de Bíblias em locais afastados da capital. Todavia, não houve o estabelecimento de qualquer "igreja".
O primeiro esforço duradouro foi iniciado em 1838, quando o Dr. Robert Kalley (1809-1888), cirurgião de Glasgow, chegou com a sua esposa Sara (1825-1907) à ilha da Madeira. Ali permaneceram durante oito anos, durante o qual centenas de pessoas conheceram ao Senhor Jesus Cristo. Este médico transcrevia no final das suas receitas um versículo bíblico, levando a que muitas pessoas pudessem ler, pela primeira vez, textos da Bíblia Sagrada. Contudo, em 1846 estalou uma violenta perseguição religiosa e os seus bens pessoais, o pequeno hospital e as escolas que tinham fundado foram alvo de pilhagem e destruição. O casal, em conjunto com cerca de 2000 pessoas, saíram da Madeira e instalaram-se em diversas partes do mundo, muito particularmente nos EUA.
Em 1840 foi fundada, em Lisboa, a Sociedade Bíblica Portuguesa, vinculada organicamente à Sociedade Bíblica Britânica Estrangeira, tendo exercido um ministério pioneiro na colportagem, acompanhamento e apoio às igrejas.
Foi a segunda metade do século XIX que marcou o início de um trabalho evangelístico em Portugal Continental. Robert Stewart, em 1860, capelão da comunidade escocesa de Lisboa, começou a pregar o Evangelho em língua portuguesa aos portugueses. Foi assim que surgiu a primeira igreja presbiteriana em Portugal. Em 1868 foi construído o primeiro templo metodista em Vila Nova de Gaia (junto ao Porto)
Em 1854, um engenheiro químico inglês, Thomas Chegwin, chegou às minas de cobre no Palhal (Albergaria-a-Velha) e ali deu início a aulas para os mineiros e respectivas famílias, distribuindo as Escrituras às pessoas em geral. Na sequência desse trabalho foi aberto um trabalho no lugar de Palhal, desde o fim do século XIX da responsabilidade de irmãos do Movimento dos "Irmãos" - e que ainda hoje existe.
Em 1872, Richard e Cathriyn Holden chegaram do Brasil, onde tinham representado a Igreja Episcopal da Escócia e tinham desfrutado da comunhão com o Dr. Robert Kalley no Rio de Janeiro. Richard Holden tinha também passado algum tempo a viajar na Inglaterra com J.N.Darby. Estes irmãos foram usados pelo Senhor e pelo seu testemunho foi edificado em 1877 o primeiro templo de uma igreja "dos irmãos", em Lisboa - o das Amoreiras. Nos anos seguintes outros irmãos - Charles e Mary Swan, Robert MacGregor, Stwart McNair e George Owens prosseguiram o trabalho dos Irmãos em Portugal.
Os primeiros trabalhos das igrejas "baptistas" e "pentecostais" foram erigidos apenas já no século XX, respectivamente em 1922 (com a abertura de um seminário em Viseu) por Joseph Jones e em 1923 (com a abertura de um templo em Portimão), por José Matos, embora o trabalho "pentecostal" já se tenha iniciado em 1913 através de José Plácido da Costa, um baptista chegado do Brasil.
Com a implantação da República, em 1910, aumentou a tolerância religiosa por um período de mais de uma década. Em 1911 foi oficialmente reconhecida a liberdade de culto, assim como o estabelecimento de congregações religiosas, mediante autorização oficial, como aliás, foi também reconhecido ainda durante a monarquia, em 1901. Houve um crescimento da fé evangélica em Portugal, de tal modo que em 1920 a percentagem da população com fé evangélica era de 0,05%. Em 1932, o número de membros das Igrejas Evangélicas em Portugal era de 3.000, cifrando-se em cerca de 10.000 o número de "simpatizantes" (assistentes irregulares).
A Aliança Evangélica Portuguesa foi estabelecida em 1921, por Eduardo Moreira, embora apenas tenha obtido o reconhecimento por estatuto legal em 1935. Ao contrário da COPIC (fundado em 1971) alicerçou os seus estatutos na membrasia de crentes individuais e de igrejas e não apenas destas.
Os anos que se seguiram foi de reforço das relações entre o Estado e a "Igreja Católica", motivadas pelo exercício ditatorial do poder governativo de Oliveira Salazar, desde logo com a promulgação da Constituição de 1933 e da outorga da Concordata (em 1940) entre Portugal e o Estado de Vaticano. Com essa Concordata, a "Igreja" Católica recuperou todos os bens que lhe tinham sido confiscados 25 anos antes, tendo-lhe sido concedida isenção de impostos (a seminários, paróquias e sacerdotes). A vida monástica foi uma vez mais encorajada e as alegadas "aparições de Fátima" conduziram a um maior obscurantismo com peregrinações mensais e anuais para aquela localidade.
A comunidade evangélica continua a "sobreviver" à sombra de todos estes acontecimentos, contudo reunindo-se em locais pouco visíveis (rés-do-chão ou caves de edifícios), associada à perseguição que começou a ser alvo da população católica, apesar do respeito e tolerância com que o Estado os tratava. Deu-se sempre a ênfase forte na salvação pessoal de cada indivíduo.
Apenas com a lei de liberdade religiosa de 1971 - que consignou o reconhecimento oficial da comunidade evangélica - e com a revolução de 25 de Abril de 1974, os evangélicos passaram a dispor - para o bem e para o mal - de uma liberdade de expressão, quer quanto à abertura de trabalhos, quer quanto à comunicação social e opinião pública, quer quanto ao reconhecimento da constituição legal junto da Administração local e central.
Hoje ás igrejas se reúnem em caves, lojas, armazéns e em locais próprios. Mas ainda é vista por muitos como uma religião estrangeira ou seita religiosa.
A muito o que fazer. Oremos por Portugal.